Como superar bloqueios na escrita
Autor: Adrian Sgarbi. Tempo estimado de leitura: 4',24’’ Imagem: Pesquisatec
Perfeccionismo, procrastinação, raiva, cansaço. Esses são os estágios mais comuns que levam a bloqueios quando se está escrevendo uma dissertação ou uma tese (Boice, 1990; Silvia, 2007). Embora não existam fórmulas mágicas, você pode evitar ou administrar o problema seguindo algumas dicas úteis.
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Para que tudo fique mais organizado, pode-se dizer que há coisas que "não ajudam"; coisas que "podem ajudar"; e coisas que "você definitivamente não deveria fazer" quando está escrevendo.
O que só atrapalha
Comparar-se a alguém que escreve 15 páginas por dia.
Comparar-se a alguém que escreve 15 páginas por dia (Hayton, 2012). Cada um tem o seu ritmo e o momento na pesquisa. Ficar se comparando com outros que estão escrevendo não irá aumentar as páginas do seu trabalho.
Pensar que você é uma fraude.
Pensar que você é uma fraude (Clance & Imes, 1978). Isso pode parecer exagerado; não é. Quando eu estava no primeiro ano do doutorado, fui com um amigo a uma festa. Como não me conheciam, perguntavam o que eu fazia. "– Bem, estou cursando o doutorado na USP"; respondia. Para mim, até aí, tudo bem. Mas em dado momento, ao responder a mesma pergunta, ouvi o seguinte: "– Nossa! Você deve ser realmente inteligente". No mesmo momento pensei: "Não, não sou! E provavelmente logo descobrirão que o que sou é uma grande fraude". Isso me atrapalhou por um bom tempo.
Descontar em alguém a sua frustração. Descontar em alguém a sua frustração. Afastar pessoas de que gostamos por contínua irritação e demonstrações de pouca paciência também é algo que ocorre com frequência (Rettig, 2001). Nada pode ser mais nocivo do que ficar isolado por discussões sem sentido quando se está escrevendo.
Brigar com o orientador. Se há algo ruim é um ambiente pesado ou difícil com o seu orientador. Respire quando houver tensão e siga em frente. Há sempre o outro dia para retomar a conversa.
O que ajuda
Encare a sua escrita como uma atividade. Queime calorias escrevendo. Você pode até não queimar muitas; mas algumas vai. Assim, você deve escrever; diariamente (Boice, 2000). Não espere um momento de inspiração para começar. Escreva.
Se a página 1 está complicada, inicie pela página 2. Pode parecer piada, mas na verdade é uma dica poderosa (Murray, 2013). Quando estiver escrevendo, tente começar pelo ponto central do capítulo. Depois, siga para as outras partes. Simples assim.
Realize a tarefa mais difícil no primeiro momento do dia. Em geral, deixamos para depois o que nos causa desconforto. Não deixe para depois. Se você está deixando para escrever por último na lista de suas tarefas, mude isso. Deve ser a primeira coisa a fazer no dia (Morgenstern, 2004).
Escreva rápido; depois revise (Elbow, 1998). Li em algum lugar que escrever é reescrever. Concordo. Quando escrevo, há palavras repetidas, erros de grafia, de concordância, confusão etc. Mas o que eu quero, ainda que de modo pouco claro, está lá.
Não se preocupe com a formatação (Glatthorn & Joyner, 2005). Esse é um erro comum. Entenda de uma vez por todas: formatar não é escrever. Enquanto você estiver escrevendo, não se preocupe com a formatação.
Corte as distrações (Newport, 2016). Escrever com avisos de todo tipo aparecendo em seu computador atrapalha. Corte todos os avisos dos diversos aplicativos que você tiver. Inclusive de email.
Divida as suas metas de escrita em tempos de 25 minutos com 3 minutos de descanso (Cirillo, 2018). Depois de 4 ciclos de 25 minutos, descanse de 5 a 10 minutos. Terminado o descanso, recomece todo o processo. Isso o ajudará a manter-se concentrado.
Planeje a sua semana (Covey, 1989). Procure prever tudo o que você necessita fazer na semana seguinte. Crie uma rotina. Estabeleça metas e revise o seu plano em um dia fixo. Reviso a minha semana seguinte toda sexta-feira. Durante a semana, adapte o que for necessário e prossiga. Não confunda planejamento com falta de flexibilidade; e tampouco flexibilidade com liberdade para não cumprir metas.
Ideias vêm de outras ideias. Portanto, mantenha todas as suas notas organizadas (Zerubavel, 1999). Aliás, seja organizado com os materiais de sua dissertação ou tese. Perder tempo procurando coisas corta o seu ritmo.
Leia livros e artigos anotando. Guarde essas notas e coloque a informação completa do material usado e a página da qual a passagem tiver sido retirada (Hart, 1998). O mesmo para referências quando você parafrasear.
Carregue consigo um bloco de notas e deixe caneta e papel perto da cama. Ideias surgem a todo tempo: quando estamos dormindo, acordados etc (Allen, 2001). Não recomendo tablets perto da cama porque podem atrapalhar o sono.
Caso esteja difícil entender algum aspecto da sua dissertação ou tese, desenhe (Arntfield, 2016). Não há nenhum problema nisso. Desenhar é apenas uma outra forma de comunicação. E, ao menos para mim, uma imagem vale mais do que 1.000 palavras. "Ver" o que está acontecendo me ajuda a "enxergar" o problema; o que está claro e o que não está. Por isso uso mapas mentais.Não há nenhum problema nisso. Desenhar é apenas uma outra forma de comunicação. E, ao menos para mim, uma imagem vale mais do que 1.000 palavras. "Ver" o que está acontecendo me ajuda a "enxergar" o problema; o que está claro e o que não está. Por isso uso mapas mentais.
Encontre um leitor de controle (Silvia, 2007). Este pode ser inicialmente o seu orientador ou não. O que importa é receber impressões de alguém. Mas lembre-se de dizer que é um trabalho inicial e que provavelmente há muitos erros.
Deixe a sua mesa arrumada para o dia seguinte (Tracy, 2004). Fazer isso, além de facilitar o começo de seu dia, o ajudará a se "desligar" de sua dissertação ou de sua tese. Você irá descansar melhor.
Leia algo fora de seu tema. Divirta-se com a leitura (Rosenberg, 2015). Divirta-se com a leitura. Não coloque nela toda a carga de seu trabalho. Ainda que ler para escrever seja entretenimento para você, ler algo fora de seu trabalho imediato ajudará a diminuir tensões.Não coloque nela toda a carga de seu trabalho. Ainda que ler para escrever seja entretenimento para você, ler algo fora de seu trabalho imediato ajudará a diminuir tensões.
O que você definitivamente não deve fazer
Beber enquanto escreve. Digo, álcool. Eu trabalhei como o leitor de controle de um amigo na época de seu mestrado. Ele costumava beber whisky quando escrevia. Tropeçando nas palavras, telefonava para mim dizendo que havia escrito "as melhores páginas de sua vida". Ao ler, eu via que começava bem. Depois, eu não entendia absolutamente nada.
Começar a escrever com algum problema pessoal martelando na cabeça. Se você tem um problema, resolva-o. Não importa qual seja: ir ao banco, conversar com alguém, sei lá. E se o problema não tiver solução, tente encarar desse modo: você não pode fazer nada. Então, siga com o que você pode fazer. Ou seja, escreva.
Isolar-se. Procure sair com seus amigos e mantenha alguma atividade que o divirta. Isolar-se não faz bem. Escrever uma dissertação ou tese não é uma corrida de 100 metros; é uma maratona. A pior coisa que você pode fazer durante todo esse tempo é ficar sozinho.
Você já usava alguma dessas técnicas? Comente. Faça perguntas. Quem sabe a sua dúvida se torna um post!
Referências anotadas:
gerenciamento de tempo e produtividade que visa reduzir o estresse e melhorar a organização pessoal e profissional.
Arntfield, M. (2016). Writing with clarity: A visual guide to sentence structure. San Francisco, CA: Chronicle Books. Arntfield oferece um guia visual que aborda a estrutura das frases e a importância de expressar ideias de forma clara e concisa na escrita.
Boice, R. (2000). Advice for new faculty members. Needham Heights, MA: Allyn & Bacon. Robert Boice oferece conselhos para novos professores universitários, abordando temas como a gestão do tempo, o equilíbrio entre ensino e pesquisa e a importância de estabelecer relacionamentos profissionais saudáveis.
Cirillo, F. (2018). The Pomodoro Technique: The acclaimed time-management system that has transformed how we work. New York: Currency. Nesta obra, Francesco Cirillo apresenta a Técnica Pomodoro, um método de gerenciamento de tempo que se baseia em períodos curtos de trabalho e pausas para melhorar a concentração e a produtividade.
Clance, P. R., & Imes, S. A. (1978). The imposter phenomenon in high achieving women: Dynamics and therapeutic intervention. Psychotherapy: Theory, Research & Practice, 15(3), 241-247. Neste artigo, Pauline Clance e Suzanne Imes apresentam o conceito de "fenômeno do impostor", que se refere à tendência de pessoas altamente competentes a duvidar de suas habilidades e temer serem expostas como fraudes.
Covey, S. R. (1989). The 7 habits of highly effective people. New York: Simon & Schuster. Stephen Covey descreve sete hábitos que podem ajudar as pessoas a se tornarem mais eficientes e bem-sucedidas em suas vidas pessoais e profissionais.
Elbow, P. (1998). Writing with power: Techniques for mastering the writing process. New York: Oxford University Press. Peter Elbow oferece uma série de técnicas para aprimorar o processo de escrita, incluindo dicas para gerar ideias, organizar pensamentos e revisar textos.
Elbow, P. (1998). Writing with power: Techniques for mastering the writing process (2nd ed.). New York: Oxford University Press. Neste livro, Peter Elbow apresenta técnicas para aprimorar o processo de escrita, incluindo dicas para gerar ideias, organizar pensamentos e revisar textos.
Glatthorn, A. A., & Joyner, R. L. (2005). Writing the winning thesis or dissertation: A step-by-step guide. Thousand Oaks, CA: Corwin Press. Neste guia, Glatthorn e Joyner fornecem orientações passo a passo para escrever teses e dissertações de sucesso, abordando desde a escolha do tema até a defesa do trabalho.
Hayton, J. (2012). Becoming a successful early career researcher. New York: Routledge. Neste livro, James Hayton oferece conselhos práticos para pesquisadores em início de carreira.
Rettig, H. (2001). The 7 secrets of the prolific: The definitive guide to overcoming procrastination, perfectionism, and writer's block. Cambridge, MA: Infinite Art. Hilary Rettig aborda a questão da procrastinação, perfeccionismo e bloqueio de escritor neste livro, fornecendo estratégias eficazes para superar esses obstáculos e se tornar um escritor mais produtivo.
Rosenberg, J. (2015). Read me: A century of classic American book advertisements. New York: Vintage Books. Neste livro, Rosenberg explora a história da publicidade de livros nos Estados Unidos, destacando a importância da leitura como uma fonte de prazer e entretenimento, além de sua contribuição para o desenvolvimento intelectual.
Silvia, P. J. (2007). How to write a lot: A practical guide to productive academic writing. Washington, DC: American Psychological Association. Silvia aborda as dificuldades e estratégias para aumentar a produtividade na escrita acadêmica, incluindo a importância de estabelecer metas, criar uma rotina de escrita e buscar feedback de leitores.
Tracy, B. (2004). Eat that frog!: 21 great ways to stop procrastinating and get more done in less time. San Francisco, CA: Berrett-Koehler Publishers. Brian Tracy apresenta 21 estratégias para combater a procrastinação e melhorar a produtividade, focando na importância de priorizar tarefas e enfrentar as mais desafiadoras logo no início do dia.
