Autor: Adrian Sgarbi. Tempo estimado de leitura: 3',48''

Escrever uma dissertação ou tese não é uma corrida de 100 metros; é uma maratona. E como toda maratona, o seu êxito depende de um bom começo e ritmo. No final, o sprint.

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Uso a mesma fórmula faz muito tempo: primeiro, tento começar sabendo para onde vou; depois, escrevo com pressa e edito muitas, muitas vezes; finalmente, submeto o texto à crítica.

Como começar?  

Sair escrevendo sem saber para onde se quer ir é fatal.[1] Sem uma boa noção do que se precisa fazer é fácil ter páginas e páginas sem qualquer utilidade. Para arrumar um pouco as suas ideias recomendo o seguinte:

Primeiro, estória: antes de começar a escrever conte a estória do que você quer com a sua dissertação ou tese em um parágrafo.[2] Sim, basta um único parágrafo que contenha a questão, a relevância, implicações e limites.

Segundo, coloque tudo o que você sabe em um mapa mental e procure suprir a falta de informação e contradições com mais leitura e notas. Melhore o seu mapa e sempre se pergunte se falta algo. Dedique bastante tempo a esta fase.

Terceiro: satisfeito com o seu mapa mental, exporte-o como marcador de modo que seja possível expandi-lo como textos iniciais de tópicos no processador de textos de sua preferência.

Como escrever? 

Minha escrita é imperfeita. Quando alguém lê prematuramente algo que acabo de colocar no papel observo um franzir de testa revelador: - O que é isso? Você não foi à escola não é?(Rs)[4]

Há um motivo. Uso a técnica 30/70. Ou seja, dedico 30% do tempo colocando o que sei no papel para não perder nada, nenhuma ideia; e 70% do tempo dedico a editar o que ainda está confuso e a corrigir todos os erros que encontro.[5] Aliás, quando tenho que abandonar esta proporção por motivo de prazo, o resultado não me agrada.[6] 

Para usar a técnica 30/70 faça o seguinte:

Apoie-se em suas anotações e escreva todos o dias, ainda que pouco.

Nunca esgote completamente o que você tem a escrever em um mesmo dia. Deixe uma nota com um gancho a partir do qual você saiba por onde começar a escrever no dia seguinte. Voltar a escrever sem saber por onde começar é o que nos leva a não escrever e a atrasar tudo.

Caso você tenha esgotado algum item de seu trabalho no dia anterior, não se desespere. Comece o dia lendo o que você já escreveu e rescreva algumas partes se for o caso. Isto o ajudará a retomar o trabalho e aquecer o raciocínio.

E lembre-se: não se preocupe com a formatação. Ajustar margem não é escrever.[7]

Crítica? O que é crítica?

Censurar e elogiar são procedimentos sentimentais que não tem nada a ver com a crítica. Criticar é analisar os pontos fracos da argumentação tendo em vista os objetivos estabelecidos no trabalho. 

Esta a dica: para receber críticas adequadas tenha um "leitor de controle" que seja interessado no tema que você está desenvolvendo e que possua alguma expertise na área.[8] Peça que leia, faça marcações e, se possível, ofereça sugestões.

Portanto, não busque estrelinhas e nem se entristeça com censuras. Isto não ajuda em nada. Não deseje a aprovação de seu leitor e menos ainda seja defensivo ao ler ou a escutar o que ele tem a dizer. Peça apenas que esclareça as observações feitas ao seu trabalho que você não compreendeu. Sendo o caso, aclare o ponto indicado e argumente mais na versão final do seu texto. 

Finalmente, seja grato ao seu leitor de controle pelo tempo que foi dedicado à você. Diga obrigado e o convite, ao menos, para um café! Ele vai gostar. Eu gosto.

[1] Leia o post "Como construir uma hipótese de trabalho e apresentar bem a sua pesquisa".

[2] Por isso colete dados, estude-os, faça anotações e compartilhe os seus insights.

[3] Leia o post "Construindo mapas para enxergar soluções".

[4] Aliás, um dia escutei de meu leitor de controle que eu escrevo como o Yoda, personagem do filme Star Wars, fala. Auch!

[5] Concordo com uma das afirmações feitas no facebook em comentário ao post "O que esperar e o que não esperar de um orientador": "- De alguns rascunhos saem os textos". Recomendo que você guarde os seus rascunhos e seja detalhado nas referências bibliográficas relacionadas. Mas não mostre nada prematuro ao seu orientador sem que ele peça. É normal ele esperar de você textos coerentes.

[6] Por isso tento planejar com antecedência e ser organizado nos projetos em que trabalho.

[7] Formatar é algo que depende do destinatário final. E cada destinatário pode ter uma regra distinta de formatação (a formatacão de uma dissertação e tese, por exemplo, não coincide sempre com as exigências de uma editora). Preocupe-se apenas em ter uma divisão clara de itens e basta. As notas de pé de página devem conter todas as informações. Use um gerenciador de bibliografias para isso.

[8] Leia o post "Você escreve como o Yoda fala".