Jargão Acadêmico: Mitos e Realidades

Autor: Adrian Sgarbi. Tempo de leitura: 4’00

Os jargões acadêmicos, uma linguagem altamente especializada usada por acadêmicos em diferentes disciplinas, têm sido objeto de debate. Vamos desmascarar alguns mitos, discutir as realidades e oferecer algumas orientações sobre o uso desses jargões.

Mito 1: O jargão é desnecessário e exclui as pessoas

Realidade: O jargão acadêmico tem um propósito importante: facilita a comunicação precisa e concisa entre especialistas. É uma ferramenta que permite aos acadêmicos transmitir ideias complexas de forma eficiente. No entanto, é verdade que seu uso excessivo ou inadequado pode tornar o trabalho inacessível para o público geral ou para pesquisadores de outras disciplinas (Hyland, 2016). Por isso, é importante encontrar um equilíbrio entre a clareza e a precisão.

Mito 2: O uso de jargão é um sinal de inteligência

Realidade: O uso de jargões não é uma medida de inteligência, mas sim de familiaridade com um campo específico de estudo. Uma linguagem clara e acessível pode ser tão indicativa de expertise quanto o uso de jargão, e muitas vezes é mais eficaz na comunicação de ideias para um público amplo (Pinker, 2014).

Mito 3: Todos os jargões são iguais

Realidade: Existem diferenças significativas entre os jargões usados em diferentes disciplinas. Alguns campos, como a física ou a medicina, podem usar termos técnicos que são quase incompreensíveis para os não iniciados. Em contraste, outras disciplinas, como as ciências sociais, podem usar palavras comuns com significados especializados (Biber & Gray, 2016).

Mito 4: O jargão não muda

Realidade: Assim como qualquer outro tipo de linguagem, o jargão acadêmico é dinâmico e evolui ao longo do tempo. Novas ideias e descobertas frequentemente exigem a criação de novos termos, enquanto outros termos podem cair em desuso à medida que as teorias e práticas mudam (Bauer & Trudgill, 1998).

Quando Evitar Jargões

Embora os jargões acadêmicos sejam úteis na comunicação entre especialistas, existem situações em que devem ser evitados. Quando a comunicação é direcionada para um público mais amplo ou interdisciplinar, é preferível usar uma linguagem mais acessível. Isso se aplica especialmente ao falar com a mídia, ao redigir artigos para publicações não acadêmicas, ou ao apresentar trabalhos em conferências com audiência diversificada. O uso excessivo de jargões pode dificultar a compreensão e alienar o público, indo contra o objetivo da comunicação efetiva. Além disso, quando se ensina ouorienta estudantes que são novos em um campo, é importante ter cuidado ao usar jargões, pois eles podem não estar familiarizados com a terminologia (Shah & Oppenheimer, 2008).

Estratégias para Tornar o Jargão Acessível

Então, como podemos usar jargões de maneira eficaz e inclusiva? Aqui estão algumas estratégias:

  1. Explique o termo na primeira vez que usá-lo.

  2. Não use o termo, mas explique em linguagem simples e depois diga, entre parênteses, que na disciplina isso é chamado de termo x.

  3. Faça um glossário de todos os termos técnicos que você está usando. Você pode ser capaz de colocar o termo em itálico ou em negrito na primeira vez que é usado para mostrar que está no glossário.

  4. Dê um exemplo para mostrar como o conceito funciona ou é aplicado. Isso pode estar no texto ou adicionado como uma nota de rodapé.

Em conclusão, o jargão acadêmico é uma ferramenta essencial para a comunicação na academia, mas seu uso deve ser ponderado. É importante que os acadêmicos considerem seu público e usem jargões de maneira responsável, garantindo que suas ideias sejam tanto precisas quanto compreensíveis. Ao manter a consciência de quando evitar jargões e usar estratégias eficazes para tornar os termos técnicos acessíveis, podemos assegurar que a academia seja um lugar de aprendizado e compreensão, não de exclusão.

Referências:

Hyland, K. (2016). Academic Publishing: Issues and Challenges in the Construction of Knowledge. Oxford: Oxford University Press. Este livro oferece uma visão ampla e aprofundada dos desafios e questões relacionados à publicação acadêmica.

Pinker, S. (2014). The Sense of Style: The Thinking Person’s Guide to Writing in the 21st Century. New York: Viking. "The Sense of Style" é um guia moderno para a escrita em inglês, escrito pelo psicólogo cognitivo Steven Pinker. Ele argumenta em favor de uma escrita clara e atraente em todas as disciplinas, e discute como o uso excessivo de jargão pode obstruir a comunicação efetiva. Um livro realmente muito bom.

Biber, D., & Gray, B. (2016). Grammatical complexity in academic English: Linguistic change in writing. Cambridge University Press. Neste livro, Douglas Biber e Bethany Gray examinam como o uso de jargões e a complexidade linguística variam entre disciplinas e gêneros acadêmicos, e como esses padrões mudaram ao longo do tempo.

Bauer, L., & Trudgill, P. (Eds.). (1998). Language Myths. London: Penguin."Language Myths" é uma coleção de ensaios que desafiam várias crenças comuns sobre a linguagem. Embora o livro não trate especificamente de jargões acadêmicos, ele fornece uma perspectiva valiosa sobre como as convenções linguísticas são formadas e mudam ao longo do tempo.

Shah, A.K., & Oppenheimer, D.M. (2008). Heuristics made easy: an effort-reduction framework. Psychological bulletin, 134(2), 207–222.Embora o foco principal do artigo não seja o jargão acadêmico, ele fornece insights úteis sobre como a linguagem complexa pode sobrecarregar os leitores e ouvintes.

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